Exxtend Biotecnologia
4/7/2023

Hemocromatose Hereditária - A luta silenciosa contra o excesso do ferro!

2 minutos
Link para o Linkedin da Exxtend
Link para o Facebook da Exxtend

Índice


  1. Metabolismo do ferro no corpo humano: processos metabólicos e sua relevância
  2. Hemocromatose: uma visão geral sobre a doença do acúmulo de ferro
  3. Explorando os diferentes tipos de hemocromatose hereditária
  4. Sintomas da hemocromatose: sinais de alerta para o excesso de ferro
  5. Diagnóstico da hemocromatose: ferramentas e procedimentos para detectar o acúmulo de ferro
  6. Tratamento da hemocromatose: abordagens para reduzir o acúmulo de ferro no organismo
  7. Referência


A hemocromatose é uma condição clínica em que ocorre o acúmulo excessivo de ferro no organismo, podendo causar disfunções em diversos órgãos. A forma heterozigótica da hemocromatose é um tipo hereditário e representa um dos distúrbios autossômicos recessivos mais frequentes, especialmente em indivíduos de ascendência caucasiana.


Metabolismo do ferro no corpo humano: processos metabólicos e sua relevância

O ferro possui múltiplas funções cruciais no organismo, abrangendo a síntese de material genético, o metabolismo energético e a produção de hemoglobina, responsável pelo transporte de oxigênio em todo o corpo.

A ingestão de ferro pode se dar através da alimentação, seja na forma de ferro heme, encontrado em alimentos de origem animal, ou na forma de ferro não-heme, presente em determinados vegetais. Quando consumido, o ferro é absorvido pelas células da mucosa intestinal, principalmente no duodeno, onde vilosidades ampliam a área de absorção de nutrientes. Adicionalmente, é possível adquirir ferro por meio da reciclagem de hemácias envelhecidas.

A captação do ferro pelos enterócitos ocorre por intermédio de proteínas transportadoras específicas. O ferro heme é transportado pela proteína HCP-1, enquanto o ferro inorgânico é transportado pela proteína DMT-1. Uma vez no interior da célula, o ferro pode ser armazenado como ferritina ou transportado para o plasma pela proteína ferroportina (FPT).


Na corrente sanguínea e no fluido extracelular, a transferrina, uma proteína plasmática, é responsável pelo transporte do ferro. A transferrina se liga à hepcidina, um peptídeo hormonal que exerce um papel vital na regulação do equilíbrio de ferro, ou seja, nos níveis adequados de ferro no organismo. A hepcidina coordena o uso e o armazenamento do ferro através da interação com a transferrina.

Moléculas presentes na face interna da membrana de células como enterócitos, macrófagos e hepatócitos também influenciam a regulação da absorção de ferro, como o receptor de transferrina (TFR) e a proteína da hemocromatose (HFE). O TFR se conecta às moléculas de transferrina, enquanto o HFE interage com o TFR, atuando como um sensor dos níveis de ferro nos hepatócitos e como um regulador indireto da síntese de hepcidina.



Hemocromatose: uma visão geral sobre a doença do acúmulo de ferro

A hemocromatose representa uma condição genética em que ocorre uma falha na eliminação adequada do ferro após sua absorção, resultando no acúmulo desse mineral em órgãos e glândulas. Esse distúrbio hereditário é uma das enfermidades genéticas mais prevalentes.


Explorando os diferentes tipos de hemocromatose hereditária

Existem diversos tipos de hemocromatose hereditária:


Tipo 1: Hemocromatose hereditária. Esta forma de hemocromatose é transmitida de maneira recessiva, afetando o gene HFE, responsável pela regulação do equilíbrio do ferro. A maioria dos casos é causada por duas cópias da mutação C282Y (rs1800562-A) do gene HFE ou pela combinação heterozigótica das variantes C282Y e H63D (rs1799945-G). Em países europeus e nos Estados Unidos, aproximadamente uma em cada oito pessoas possui uma cópia da variante do gene da hemocromatose, enquanto a incidência de indivíduos homozigóticos é de cerca de 1 em cada 200.

Tipo 2: Hemocromatose juvenil. Esta forma de hemocromatose também é transmitida de forma recessiva, sendo mais comum em indivíduos jovens. O tipo 2A está associado a uma mutação no gene HJV, que codifica a proteína hemojuvelina, responsável pela regulação dos níveis de hepcidina. Já o tipo 2B está relacionado a uma variante no gene HAMP, que afeta diretamente a síntese de hepcidina.

Tipo 3: Hemocromatose associada a mutação do receptor de transferrina. Essa forma de hemocromatose, também transmitida de forma recessiva, é mais prevalente em indivíduos jovens e possui uma progressão mais lenta em comparação ao tipo 2. O tipo 3 está associado a uma variante no gene TFR2, responsável pela síntese do receptor de transferrina.

Tipo 4: Hemocromatose associada a mutação da ferroportina. Esta forma de hemocromatose é transmitida de forma dominante e está relacionada a uma variante no gene SLC40A1, que codifica a ferroportina, uma proteína responsável pelo transporte de ferro. A mutação afeta a interação entre a ferroportina e a hepcidina, influenciando o equilíbrio do ferro no organismo.


Sintomas da hemocromatose: sinais de alerta para o excesso de ferro

Embora o ferro seja essencial para o funcionamento adequado do organismo, o excesso desse mineral pode se tornar potencialmente prejudicial. Com o passar do tempo, o acúmulo de ferro nas células atinge níveis tóxicos de sobrecarga devido à sua capacidade de gerar radicais livres de oxigênio, resultando em estresse oxidativo. Quando não tratada, a hemocromatose pode ter consequências fatais.


A sobrecarga excessiva de ferro no organismo tende a ocorrer de maneira gradual e assintomática na maioria dos casos, com exceção da hemocromatose juvenil. Normalmente, pacientes com até 30 anos de idade podem acumular aproximadamente 10 a 20 gramas de ferro em órgãos como fígado, coração e glândulas endócrinas sem apresentar sintomas perceptíveis.

Uma característica marcante da hemocromatose hereditária é sua prevalência de 2 a 10 vezes maior em homens do que em mulheres adultas. Isso ocorre devido à perda mensal de ferro durante a menstruação, que atrasa o acúmulo de ferro no organismo em cerca de dez anos. Geralmente, os sintomas da doença surgem após a menopausa.

A hemocromatose hereditária pode apresentar uma variedade de sintomas, sendo os principais:

Complicações hepáticas: A sobrecarga de ferro no fígado pode levar a diversas doenças hepáticas, como cirrose, inflamação, insuficiência hepática e até mesmo câncer.

Fadiga e fraqueza: O acúmulo excessivo de ferro pode causar sintomas de fadiga crônica e fraqueza, afetando a energia e a disposição.

Ausência de menstruação: Nas mulheres, a hemocromatose pode levar à interrupção ou irregularidade do ciclo menstrual.

Disfunção sexual: A hemocromatose pode afetar a função sexual em homens, resultando em impotência ou diminuição da libido.

Problemas cardíacos: O ferro em excesso pode causar danos ao coração, levando a insuficiência cardíaca e arritmias cardíacas.

Pigmentação da pele: A acumulação de ferro pode resultar em uma pigmentação anormal da pele, com tonalidade bronzeada ou acinzentada.

Comprometimento das glândulas endócrinas: O acúmulo de ferro pode afetar as glândulas endócrinas, resultando em disfunção hormonal e problemas relacionados, como hipogonadismo, hipotireoidismo ou diabetes.

É importante ressaltar que os sintomas podem variar em intensidade e gravidade entre os indivíduos afetados pela hemocromatose hereditária. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são essenciais para prevenir complicações a longo prazo.

Diagnóstico da hemocromatose: ferramentas e procedimentos para detectar o acúmulo de ferro

O diagnóstico da hemocromatose é realizado por meio de diferentes abordagens, que podem incluir:

Avaliação dos biomarcadores de ferro: A medição dos níveis de biomarcadores como ferritina e transferrina no sangue é um dos principais métodos utilizados para diagnosticar a hemocromatose. A ferritina reflete o nível de ferro acumulado no organismo, enquanto a transferrina mostra a saturação de ferro circulante.

Biópsia hepática: Em alguns casos, uma biópsia hepática pode ser realizada para avaliar os níveis de ferro nos tecidos hepáticos e identificar possíveis lesões. No entanto, esse procedimento é mais invasivo e geralmente é reservado para situações em que outros testes não fornecem informações conclusivas.

Testes genéticos: Os exames genéticos desempenham um papel crucial no diagnóstico preciso da hemocromatose. Esses testes permitem o sequenciamento dos genes relacionados à doença, como o gene HFE. Ao identificar variantes genéticas específicas, é possível determinar se o indivíduo possui uma herança heterozigótica (uma cópia do gene mutado) ou homozigótica (duas cópias do gene mutado).

É importante ressaltar que o diagnóstico da hemocromatose requer a interpretação cuidadosa dos resultados dos exames, levando em consideração os sintomas clínicos, histórico familiar e outros fatores relevantes. A consulta a um profissional de saúde especializado, como um hematologista ou hepatologista, é fundamental para o diagnóstico correto e o desenvolvimento de um plano de tratamento adequado.


Tratamento da hemocromatose: abordagens para reduzir o acúmulo de ferro no organismo

O tratamento da hemocromatose tem como objetivo reduzir a sobrecarga de ferro no organismo e prevenir complicações. Algumas abordagens comuns incluem:

Flebotomia: A flebotomia é o tratamento mais utilizado e eficaz para a hemocromatose. Consiste na remoção periódica de sangue, semelhante a uma doação de sangue. Esse procedimento reduz os níveis de ferro no organismo, ajudando a controlar o acúmulo excessivo. A frequência das flebotomias varia de acordo com a gravidade do quadro, mas geralmente são realizadas regularmente até que os níveis de ferro sejam normalizados.

Agentes quelantes de ferro: Em alguns casos em que a flebotomia não é viável ou adequada, podem ser prescritos agentes quelantes de ferro. Esses medicamentos ajudam a reduzir a quantidade de ferro circulante no sangue, ligando-se ao ferro e facilitando sua eliminação através da urina ou fezes.

Acompanhamento dietético: A adoção de uma dieta com restrição de ferro pode ser recomendada como parte do tratamento. Isso envolve evitar alimentos ricos em ferro, como carnes vermelhas, vísceras, leguminosas e cereais fortificados. É importante buscar orientação de um nutricionista para garantir uma dieta equilibrada e adequada às necessidades individuais.

Tratamento de complicações: Em casos em que a hemocromatose já causou danos aos órgãos, como o fígado, podem ser necessários tratamentos adicionais para abordar as complicações específicas. Isso pode incluir terapias para tratar cirrose, insuficiência cardíaca, diabetes ou outras condições relacionadas.

O tratamento da hemocromatose é individualizado, levando em consideração a gravidade da doença, sintomas apresentados e histórico do paciente. É fundamental o acompanhamento médico regular para monitorar os níveis de ferro, avaliar a eficácia do tratamento e ajustar as abordagens conforme necessário.




Referência


Aymone, W. C., Valiati, V., Resem, M. G. F. S., & Peres, W. (2013). Hemocromatose hereditária. J Bras Med, 101(6), 27-33.


Brissot P, Pietrangelo A, Adams PC, de Graaff B, McLaren CE, Loréal O. Haemochromatosis. Nat Rev Dis Primers. 2018;4:18016. 2018 Abril. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/pmid/29620054/


Cançado, R. D., & Chiattone, C. S. (2010). Visão atual da hemocromatose hereditária. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, 32, 469-475.


Pietrangelo A. Ferroportin disease: pathogenesis, diagnosis and treatment. Haematologica. 2017;102(12):1972-1984. doi:10.3324/haematol.2017.170720


Camaschella C, Nai A, Silvestri L. Iron metabolism and iron disorders revisited in the hepcidin era. Haematologica. 2020;105(2):260-272. 2020. doi:10.3324/haematol.2019.232124

Pesquisa

Mais conteúdos

Datas Importantes

Os químicos na produção de oligos - Dia do Químico

Exxtend Biotecnologia
18/6/2023
Curiosidades
Datas Importantes

Farmacogenética: A resposta dos genes a medicamentos

Exxtend Biotecnologia
15/8/2023
Curiosidades
Pesquisa

O Pangenoma humano e tudo que você precisa saber sobre genomas de referência

Exxtend Biotecnologia
22/8/2023